“Para que o trabalho flua e as pessoas se engajem precisamos atualizar nosso modelo mental”
Woman in surroundings of digital technology

“Para que o trabalho flua e as pessoas se engajem precisamos atualizar nosso modelo mental”

Este artigo delicioso  de Daniela Diniz,  jornalista da Coluna  Trabalho 4.0 no site da Revista HSM Management, nos  atualiza sobre as implicações do trabalho em Home Office  exercido por todos, a “toque de caixa”  e vai além , já que  nos  conduz à reflexão sobre a novo e irreversível jeito de viver e não só de trabalhar.

Por Daniela Diniz – Revista HSM Management

O termo home office já nos dá uma boa dica do que efetivamente acontece em nossas vidas ao adotar esse modelo de trabalho: a casa é o escritório e o escritório é a casa. Assim, sem separação. E manter uma rotina produtiva, apesar de ser difícil em especial para quem está iniciando, não é o nosso maior desafio. Para que o trabalho flua e as pessoas se engajem precisamos atualizar nosso modelo mental

Entre agosto de 2018 e julho de 2019, vivi nos Estados Unidos com minha família. Enquanto meu marido fazia um pós-doutorado em Processo Civil e meu filho estava no terceiro ano da Elementary School, eu segui trabalhando a distância (especificamente de Syracuse, Central NY) para o Great Place to Work Brasil. De lá, coordenei uma equipe de quatro pessoas. De lá, escrevi artigos e realizei webinars. De lá, participei de todas as reuniões de liderança da empresa. De lá, dei entrevistas. De lá, conversei com clientes. Tudo isso, enquanto cozinhava, levava e pegava meu filho no ponto de ônibus, limpava a casa, lia livros e assistia a vários filmes na Netflix. Mais do que viável, essa vida foi saudável

Nas últimas semanas, boa parte dos brasileiros foi obrigada a experimentar essa rotina. Sair da cama e emendar o café numa reunião online. Usar áudios e vídeos de WhatsApp à exaustão e baixar várias ferramentas de webconference, enquanto os filhos zanzam pela sala e pedem alguma atenção. Num primeiro momento, para quem está praticando pela primeira vez, pode parecer caótico. Os papeis se misturam e parece que o tempo não tem pausas. O almoço não sai exatamente entre 12h e 13h. O tempo para o café com colegas não acontece. O fim do expediente nunca chega.

Num primeiro momento, parece que não vai dar certo nunca. Calma. É só o primeiro momento. Ao introduzir seu ritmo nas 24 horas do dia e dividi-lo de acordo com suas necessidades (e seu perfil) você vai perceber que esse estilo de vida não só dá certo como pode ser muito mais produtivo e prazeroso. Claro que esse novo jeito de trabalhar vai exigir uma certa disciplina e organização (de tempo e espaço). Mas esses dois pontos não são os mais desafiadores. O mais difícil é você mudar seu modelo mental. Fomos acostumados e educados e viver a vida em etapas. Você nasce, estuda, se forma, entra no mercado de trabalho e vai galgando os degraus da escada corporativa, quase sempre na mesma empresa – ou, ao menos, na mesma indústria. Por volta dos 60 anos, você se aposenta e aí vai encontrar aquele tempo para fazer tudo que planejou na sua vida “produtiva”. Essa separação clara de “tempo para o trabalho”, “tempo para a família” e “tempo para a diversão” faz parte do nosso mindset e, portanto, unir tudo isso no mesmo tempo parece um tanto quanto confuso e até inapropriado. Acontece que o mundo já vem nos desafiando há alguns a interromper esse pensamento linear. Primeiro porque o que sabemos hoje não irá garantir nossa sobrevivência no futuro. O tempo médio das habilidades aprendidas atualmente é de cinco anos. Isso significa que, não importa a faculdade que você fez, você estará num constante estado de aprendizado para se adaptar aos novos ciclos do conhecimento, que são cada vez mais curtos. Segundo, porque desde que a tecnologia permitiu que todo do conhecimento, que são cada vez mais curtos. Segundo, porque desde que a tecnologia permitiu que todo nosso trabalho esteja num equipamento móvel – seja o notebook, seja o smartphone – ou ainda na nuvem, podemos carregar a vida profissional para dentro de casa e a vida pessoal para dentro do trabalho. Sem limites. Na lógica industrial (a que ainda estamos presos) somos obrigados a fazer uma coisa de cada vez. Por isso, estamos tão apegados ao comando: trabalhar e depois descansar. Na lógica digital, a que já pertencemos (mas resistimos) somos convidados a fazer várias coisas ao mesmo tempo: trabalhar, nos divertir, relaxar, aprender. Há ainda um terceiro fator que nos convida a derrubar essas etapas psicológicas: o aumento da expectativa de vida. Se, na carreira linear, você se aposentava com 60 anos, teria ali de cinco a sete anos para “desfrutar” do tempo que o trabalho roubou ao longo da vida. Hoje, aos 60 anos, você não imagina que o fim estará próximo. Mas que terá, pelo menos, uns 20 anos para fazer de tudo, inclusive trabalhar.

O momento que vivemos agora, portanto, pode ser muito útil para acelerar essa mudança de comportamento. Como escreveu Yvon Chouinard, fundador da Patagônia, empresa americana que confecciona e comercializa roupas e acessórios para usar ao ar livre, em seu livro Lições de um empresário rebelde, “o trabalho deveria ser agradável diariamente. Todos deveriam estar cercados de amigos que pudessem se vestir da maneira que quisessem (até descalços). Deveríamos ter tempo flexível para surfar nas ondas quando estão boas ou esquiar na neve ou ficar em casa e cuidar de uma criança doente. Deveríamos acabar com essa distinção entre trabalho, diversão e família”.

Que esse período de quarentena nos ajude a entender que não se separa mais a vida entre profissional e pessoal. A vida é uma só. E deve ser vivida de forma integral.

Daniela Diniz é jornalista, com MBA em Recursos Humanos, e acumula mais de 20 anos de experiência profissional. Integra a equipe da coluna Trabalho 4.0 no site da Revista HSM Management.

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