Estou seriamente inclinada a não achar que foi coincidência, ao folhear despretensiosamente um livro, encontrar no prefácio o poema abaixo:
“Não me interessa o que você faz para ganhar a vida.
Quero
saber o que você deseja ardentemente, se ousa sonhar em atender aquilo pelo
qual seu coração anseia.
Não me interessa saber a sua idade.
Quero saber se você se arriscará a parecer um tolo
por amor, por sonhos, pela aventura de estar vivo.
Não me interessa saber que planetas estão em
quadratura com a sua lua.
Quero saber se tocou o âmago de sua dor, se as
traições da vida o abriram ou se você se tornou murcho e fechado por medo
da própria dor!
Quero saber se pode suportar a dor, minha ou sua, sem
procurar escondê-la, reprimi-la ou narcotizá-la.
Quero saber se você pode aceitar alegria, minha ou
sua; se pode dançar com abandono e deixar que o êxtase o domine até a ponta dos
dedos das mãos ou dos pés, sem nos dizer para termos cautela, sermos realistas,
ou nos lembrarmos das limitações de sermos humanos.
Não me interessa se a história que me conta é a
verdade.
Quero saber se consegue desapontar outra pessoa para
ser autêntico consigo mesmo, se pode suportar a acusação de traição e não trair
a sua alma.
Quero saber se você pode ver beleza mesmo que ela não
seja tão bonita todos os dias, e se pode buscar a origem de sua vida na
presença de Deus.
Quero saber se você pode viver com o fracasso, seu e
meu, e ainda, à margem de um lago, gritar para a lua prateada: ‘Posso!’
Não me interessa onde você mora ou quanto dinheiro
tem.
Quero saber se pode levantar-se após uma noite de
sofrimento e desespero, cansado, ferido até os ossos, e fazer o que tem de ser
feito pelos filhos.
Não me interessa saber quem você é e como veio parar
até aqui.
Quero saber se você ficará comigo no centro do
incêndio e não se acovardará.
Não me interessa saber onde, o quê, ou com quem você
estudou.
Quero saber o que o sustenta a partir de dentro,
quando tudo o mais desmorona.
Quero saber se consegue ficar sozinho consigo mesmo e
se, realmente, gosta da sua companhia mesmo nos momentos vazios da vida!”
The Invitation, inspirado por Sonhador da Montanha Oriah, um índio ancião americano, em Maio de 1994.
Não menos coincidência foi separar para ler, há algumas semanas, o livro “Em busca de sentido”, de Viktor Frankl. Frankl foi um médico psiquiatra judeu preso em um campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial, e a partir desta experiência dificílima criou uma teoria chamada Logoterapia. Eu estava adiando a leitura por uma série de circunstâncias como tempo, leitura pesada, triste, momento que estamos vivendo etc.
Já podem imaginar o quanto estava enganada, não? Ele traz o conceito da vontade de sentido, que nos orienta para uma realização de sentido, a qual nos dá uma razão para se ser feliz.
Ele conta que pensava da seguinte maneira no campo de concentração em Auschwitz: “Frankl, você não terá muitas chances de sobreviver. Provavelmente você morrerá na câmara de gás. No entanto, ninguém vai me convencer de que é impossível sobreviver e que vou terminar numa câmara de gás. Uma vez que não é certeza eu morrer nos próximos dias, vou continuar a viver e a agir acreditando no amanhã”.
O fator determinante foi a decisão, a liberdade de escolha de tornar-se quem quer ser, de lidar com o sofrimento e encontrar um sentido nele. Para Frankl, o ser humano é motivado por um desejo de configurar sentidos e dar valor à sua existência. O sentido da vida pode ser encontrado em todas as circunstâncias da vida, por pior que ela seja.
Acabo refletindo então, que neste cenário é vital desenvolver nossa flexibilidade para nos adaptarmos, descobrir qual é nosso propósito, ou seja, buscar significado para nossas ações, nos inspirarmos em valores éticos, solidários e desejar verdadeiramente contribuir para um bem comum.
Todos nós teremos que enfrentar e transcender os desafios que este cenário está trazendo. Da nossa parte, estamos buscando alternativas, ideias, estudando novas formas para apoiar e dar sentido para o desenvolvimento das pessoas.
Angela Sardelli
Vox Consulting